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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Especialistas apontam fraude fiscal em balanço do Carrefour

Ações da companhia tiveram queda de até 10% ontem na bolsa de Paris depois que rede corrigiu números

O rombo de R$ 1,2 bilhão anunciado pelo Carrefour na operação brasileira afetou fortemente o valor das ações da companhia na bolsa francesa, que chegaram a cair 10% durante o dia de ontem, mas fecharam em queda de 5,6% valendo E32,9. Segundo o tributarista Welinton Mota, o anúncio de um valor três vezes maior do que o verificado anteriormente levanta algumas polêmicas. "É preciso uma investigação imediata sobre os reais valores divulgados pela empresa", afirma Mota. O erro no balanço, segundo o especialista, representa uma fraude fiscal. "Alguns erros cometidos pelo Carrefour incidem diretamente no não pagamento de tributos".

A empresa declarou como receita operacional o que na verdade seria uma receita não operacional. Além disso, a auditoria apontou ajustes de depreciação e inventário e provisões para litígios trabalhistas e fiscais.

A forma de lançamento das bonificaçãos do varejo, prática recorrente entre as redes, foi um dos erros de balanço cometidos pelo Carrefour, segundo o especialista. Essas bonificações são taxas cobradas pelos hipermercados que usualmente resultam em descontos nos preços dos produtos na venda pela indústria. Pagamento por posição de destaque nas gôndolas ou mesmo por participação nos folhetos que destacam os produtos são algumas dessas bonificações. Esse valor, como não faz parte o objeto social do Carrefour, deve entrar como receita não operacional, ou seja, valor total deve ser tributado a parte, o que não ocrreu. A empresa declarou o valor como receita operacional, aplicando o valor do Imposto de Renda sobre o valor total, diz o tributarista.

"Por causa disso, o Carrefour apresenta um débito com a Receita Federal, acredito que uma investigação mais profunda será feita. Não podemos dizer que há um caso policial, mas com certeza há um caso fiscal grave".

Além das preocupações com os tributos, outro ponto relevante é a questão das empresas de auditoria. Para Heleno Torres, professor da faculdade de direito da Universidade de São Paulo, o Brasil vivie um momento no qual é necessário ter credibilidade. "As empresas de auditoria precisam receber uma intervenção urgente. A credibilidade das empresas brasileiras pode ficar abalada", afirma o professor.

Para Torres, há um afrouxamento de controle por parte das entidades que deveriam fiscalizar a atuação dessas empresas. Sobre a questão do Carrefour, o especialista afrima que é um caso fiscal que exige investigação imediata. "As auditorias vendem credibilidade e estão perdendo isso, é preciso que todo caso de erro de balanço ou possível fraude seja investigado", afirma Torres.

Há algum tempo o varejista vem sofrendo pressão de acionistas franceses para vender seus imóveis em países emergentes como China e Brasil.

No mercado local, as vendas cresceram 13,1% no terceiro trimestre. A bandeira que mais contribuiu para esse resultado foi o Atacadão. Somente as lojas com esta marca tiveram alta de 12,8% no período. Em sete anos, o Carrefour deixou de operar em oito países. No mês passodo, vendeu todas as lojas da Tailândia para o grupo francês Casino, sócio do Pão de Açúcar no Brasil.

Brasil Econômico

Amanda Vidigal Amorim

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